A história de dois atletas que não só sobreviveram a acidentes mas desafiaram os diagnósticos e fizeram de tudo para voltar a competir, o que a ciência explica disso? Fomos atrás de respostas a esses casos
por Diogo Oliveira, para outrosquinhentos.com | Fotos: Divulgação
Colidir com um ônibus a 62km/h, ter 20 ossos quebrados além de 95% de chances de ficar paraplégico ou ser atingido por um caminhão e ter o pescoço quebrado? Tanto faz quando se trata de atletas de elite. Hoje na minha coluna nos Outros Quinhentos vou falar um pouco de como é possível esses sobre-humanos se recuperarem tão rápido após acidentes terríveis.
Mas antes de entender como eles conseguiram, vamos aos casos: Tim Don é um triatleta britânico que já foi recordista de IronMan, participou de três edições dos Jogos Olímpicos e incontáveis pódios na Copa do Mundo de triatlhon.
Em 18 de outubro de 2018, quando estava no Havaí para competir no campeonato mundial de IronMan, ele não pôde sequer começar a corrida, poucos dias antes do evento, Tim foi atropelado por um caminhão enquanto treinava de bicicleta. O diagnóstico médico era de que ele havia quebrado o pescoço.
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O mundo do triathlon ficou em choque, as notícias que vinham do hospital não eram boas, os médicos conseguiram estabilizá-lo e dois dias depois do acidente ele voltou para Boulder, no Colorado, onde vive. As opções de Tim eram reduzidas e o colocaram quase fora do esporte, mas ele resolveu optar pelo único que poderia curá-lo por completo – mas que também seria o mais doloroso, que segundo os médicos era um tratamento experimental: parafusar no crânio um “halo” de metal, que apesar do nome angelical, se parece mais com um mecanismo de tortura.

Tim tinha um longo e sofrido caminho pela frente. E em menos de meio ano depois de ter praticamente quebrado o pescoço, Tim já estava na academia com grandes objetivos traçados.
Incrivelmente, em 16 de abril de 2019, quase seis meses depois do acidente, Tim participou da Maratona de Boston. E no dia dia 13 de outubro de 2018, Tim estava na linha de partida em Kona, pronto para enfrentar o Campeonato Mundial de Ironman novamente.
O próximo caso é mais recente mas não menos assustador. O super ciclista colombiano Egan Bernal da equipe Ineos Grenadiers, campeão dos tradicionais Giro d’Italia e do Tour de France, entre outros.
No dia 24 de janeiro desse ano, o atleta de 25 anos treinava com a equipe em Bogotá, como parte de sua preparação para o Tour de France, quando em uma descida, Egan perdeu o controle da bicicleta e se chocou com um ônibus que vinha na direção contrária, com o impacto sofreu fraturas no fêmur e joelho direito, onze costelas partidas, perfuração nos dois pulmões e várias vértebras quebradas entre elas a T5 e T6. O campeão foi levado consciente para a Clínica de la Sabana, na capital colombiana com 95% de chance de ficar paraplégico.

Graças ao nível profissional dos médicos, Egan saiu muito bem das sete cirurgias que precisou fazer. Depois de terem dado como suspensa a carreira, o ciclista passou por sessões exaustivas de fisioterapia onde não se sabia qual seria seu futuro dentro do esporte.
Mas Egan não desanimou e continuou fazendo o que podia fazer para se recuperar. Menos de 4 meses depois do acidente, ele está com sua equipe na Europa acompanhando o circuito mundial de perto e feliz por voltar a treinar. Ainda não se sabe quando Egan volta a competir, mas é certo de que ele venceu o principal torneio da sua vida, que foi sobreviver e se recuperar de um acontecimento tão grave.
Com frequência vemos os esportistas se machucarem durante competições ou treinos e voltarem, em um tempo recorde, a competir quase nas mesmas condições anteriores à lesão. Já no caso de alguém que pratica atividade física de maneira regular, o período de recuperação costuma ser mais longo, apesar das atividades de reabilitação. Mas o que a ciência explica dessas situações, como é possível eles se recuperarem tão rápido?
De acordo com o médico ortopedista Mikel Sánchez, que participou recentemente de 25° Congresso da Sociedade Espanhola do Joelho e deu uma entrevista a respeito do retorno de Egan Bernal as corridas, mesmo que em geral se pense o contrário, o tipo de tratamentos e de cirurgia utilizados tanto em esportistas de elite como na população em geral normalmente apresentam os mesmos procedimentos e características.
Na opinião do médico espanhol, a grande diferença está nas propriedades anatômicas e biológicas dos esportistas de elite, que normalmente são de “melhor qualidade”.
Tais características, permitem um maior poder de cicatrização e de musculação, além de uma capacidade de superação superior à da população em geral. Como resultado, os esportistas de elite apresentam uma melhor reação aos processos cirúrgicos e à fisioterapia e permitem uma recuperação mais rápida diante de lesões.
“Da mesma maneira que um jovem tem um organismo que se recupera mais rápido que o organismo de um idoso, os esportistas de elite apresentam determinadas características físicas, além de uma fortaleza mental, que diminuem os períodos de recuperação. Não se opera melhor uns que outros, não se gasta mais dinheiro nem mais recursos; o carinho, a dedicação, os recursos e os profissionais envolvidos são os mesmos. O que muda é o material, ou seja, o corpo de cada um”, esclarece Mikel.
Uma fisioterapia comum – que consiste em sessões de 30 a 40 minutos por dia, realizada uma ou duas vezes por semana – não tem espaço nesse universo do alto rendimento. “Hoje o foco é um tratamento intensivo, de duas a três vezes no mesmo dia. Isso acontece visando uma reabilitação mais rápida e com equipamentos como laser de alta potência, ultra som, ondas curtas, magnetoterapia que aceleram a cicatrização das lesões e a restauração dos tecidos”, finaliza Mikel.
Portanto, não existe segredo nesses atletas, o segredo está em como eles levam a recuperação a sério e em como eles prepararam seus corpos ao longo de tantos anos de esporte.
*este conteúdo é uma contribuição de Diogo Oliveira, jornalista e graduando em Educação Física e colunista em outrosquinhentos.com. Os textos dos colunistas são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente expressam a opinião de outrosquinhentos.com
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