Psicóloga, dentista e especialista em cirurgia da mão comentam os riscos envolvidos no hábito e dão dicas de como se proteger
por outrosquinhentos.com
Nunca se ouviu falar tanto sobre a importância de lavar e higienizar as mãos. Em tempos de coronavírus aqueles que tem a mania de roer unhas acabam facilitando a exposição do organismo a infecções e doenças causadas por vírus, bactérias e fungos.
“O hábito, também conhecido como onicofagia, afeta pessoas de todas as idades e geralmente está relacionado a alguma situação de ansiedade e nervosismo”, afirma o dentista Willian Ortega.
Com o isolamento social devido a pandemia mundial, não faltam motivos para a roer as unhas, certo? Errado! O especialista alerta sobre todos os males que a mania pode ocasionar, além claro, do alto risco de contrair a Covid-19.
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Roer as unhas facilita o crescimento de bactérias na cavidade oral podendo afetar dentes e gengivas, já que os pedaços das unhas roídas são cortantes, além de causar mau hálito.
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O movimento feito para roer as unhas pode causar alterações na mandíbula como estalos e dor ao mastigar.
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Quem tem o hábito de roer unha está mais propenso a desenvolver bruxismo, que causa o ranger dos dentes inconsciente, aumentando a sensibilidade dentária.
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Para as crianças que estão em fase de desenvolvimento dos dentes e que tem esse hábito, há o risco de má-oclusão e problemas de alinhamento da arcada dentária.
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Ao roer as unhas é natural fazer uma pressão maior nos dentes. Isso ocasiona o desgaste do esmalte, deixando os dentes mais desprotegidos e propensos a formação de cáries e gengivite. Em casos mais graves o desgaste do esmalte pode ocasionar fissuras e fraturas.
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Quem utiliza aparelhos ortodônticos os riscos podem ser ainda piores, já que o aparelho pressiona propositalmente os dentes. Ao roer as unhas pode acontecer desalinhamentos e complicações para a arcada.
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O ato da onicofagia vai além da boca, podendo causar problemas digestivos e estomacais pelo acúmulo de bactérias.
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Em alguns casos as bactérias vindas da unha podem ser a causa de episódios de diarreia, infecções respiratórias e até apendicite.
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Esteticamente também prejudica o crescimento das unhas e altera o seu formato, além de abrir precedente para infecções nas unhas e dedos.
Graves infecções podem ser causadas com hábito de roer unha: Em caso recente na Escócia, situação quase levou um homem à morte
Por ansiedade, nervosismo ou até mesmo ato involuntário, muitas pessoas têm o hábito de roer a unha. Mas a mania pode causar sérios problemas nas mãos, como em caso recente registado na Escócia. Um homem de 48 anos precisou ser submetido a uma cirurgia de urgência, após contrair uma grave infecção no dedo indicador da mão direita. O escocês foi ao hospital depois que a ponta do dedo começou a edemaciar e colecionar pus. Na emergência, informaram que se demorasse um pouco mais a buscar tratamento, a infecção poderia ter sido fatal.
Outro caso de repercussão, ocorrido em 2018, no Reino Unido, quase vitimou um rapaz, à época, com 28 anos, que havia arrancado uma cutícula da unha com os dentes. A infecção evoluiu para um quadro de septicemia, condição potencialmente fatal que surge quando a resposta do corpo a uma infecção danifica os seus próprios tecidos e órgãos.
Especialistas da SBCM (Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão) explicam que, ao roer a unha, a pele que fica ao lado dela – e que tem a função de proteção e suporte – é lesionada, facilitando a entrada de bactérias, que levam à infeção. Isso porque, sendo a boca um local repleto de germes, ao morder um ferimento aberto, muitas bactérias são infiltradas. Rompendo a camada que envolve o dedo, o risco de proliferação de bactérias, fungos e vírus aumentam em 80%.
Chamada de paroníquia, a infecção ao redor das unhas causa edema e vermelhidão, além de dor forte no local. Em pessoas com diabetes, os problemas podem ser ainda maiores.
Em estágios avançados, a paroníquia pode levar à complicações e representar um risco de septicemia. O tratamento irá depender do nível da infecção e pode variar desde uma simples limpeza tópica, um tratamento sistêmico (com administração de antibióticos), até uma pequena cirurgia para remover a coleção purulenta.
Como as estruturas na ponta dos dedos são muito próximas, uma infecção que atinge a unha tem grandes chances de se espalhar para o osso, articulação e tendão, resultando em sérios problemas. A compulsão em roer as unhas pode causar até deformidade dos dedos.
Afinal, como vencer o hábito de roer as unhas?
Em primeiro lugar, é importante destacar que não se trata apenas de um hábito, mas Onicofagia – classificado no Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria, como um Transtorno Obsessivo-Compulsivo, o que requer atenção e cuidados. De acordo com a psicóloga e terapeuta Andréa Leão, antes mesmo de inibir, é necessário identificar o que leva a isto.
Identificar os gatilhos
Antes de tentar refrear o hábito de roer unhas, é útil dedicar um momento para identificar o que o leva fazer isso. Preocupações com contas a pagar, com provas acadêmicas, com apresentação oral de um trabalho, com reuniões de trabalho etc.; medo de perder o emprego, de um possível término de relacionamento, de não dar conta do que tem por fazer; estar em casa assistindo TV e tentando passar o tempo; ociosidade, dentre outros fatores podem disparar o comportamento de roer unhas, que geram sensações de alivio e prazer no aparelho psíquico, por isso, a manutenção do comportamento.
Descobrir o que é, os determinados eventos, pessoas específicas ou estados emocionais, possibilitam trabalhar para mudar sua reação a esses cenários. Então, a chave para controlar e parar de roer unhas é descobrir qual é o seu gatilho. “Destaco que, você pode e deve fazer uso das recomendações tradicionais para parar de roer unhas, tais como usar luvas, mascar chicletes, manter as unhas cortadas e hidratadas, mas é fundamental que liste os fatores que disparam o seu comportamento, de forma a ter consciência deles e, assim, conseguir implementar ações de contenção”, comenta Andréa.
Ações para conter os gatilhos
Quando previamente pensamos, estruturamos formas de lidar com o que nos gera desconfortos emocionais (ansiedade, inquietação etc.). Em geral, reduzimos a tensão pela possível ocorrência destes desconfortos e, na situação, temos melhores condições de enfrentamento/gerenciamento.
Pedir ajuda para evitar o comportamento e substituir por bons hábitos
Sendo um comportamento que se automatiza, peça ajuda de amigos e familiares para que apontem (gentilmente) se eles o virem roer as unhas. Quando você sentir vontade de roer as unhas ou se ver fazendo isso, tente brincar com uma bola anti estresse ou similar, escrever, desenhar, tocar algum instrumento etc. Ou seja, tente manter as mãos ocupadas e afastadas da boca.
A profissional também dá outras dicas de como desestimular o hábito:
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Adotar estilo de vida saudável, o que implica em: comer bem, dormir bem e colocar o corpo em movimento! Cada uma dessas atividades saudáveis pode ajudar a reduzir a ansiedade e provocar sensações de bem estar e qualidade de vida.
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Evitar o Isolamento social. O isolamento pode aumentar a ansiedade por não ter com quem conversar, compartilhar angústias, problemas, enfim, por ficar fechado em si remoendo pensamentos (intrusivos, catastróficos, ansiogênicos) que são gatilhos para o agravamento do quadro.
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Evitar trabalhar de forma excessiva. É importante reservar tempo para descansar, relaxar e ter momentos prazerosos não apenas pela via do trabalho, mas, em especial, através do lazer e entretenimento.
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Relaxar e desacelerar. As técnicas incluem respiração profunda, meditação da atenção plena (Mindfullness), Ioga e Tai Chi. Cada uma dessas atividades pode ajudar a desacelerar o corpo e a mente.
- Buscar ajuda profissional, sempre que necessário.
Como podemos lidar com gatilhos que iniciam uma crise de ansiedade?
Recomenda-se evitar o consumo de álcool e outras drogas, bem como reduzir a ingestão de café. Além disso, evitar situações de estresse, conflitos e discussões. “Tente acalmar a mente, desacelerar a vida e não trazer para o agora o que pode ser tratado amanhã. Caminhe, converse com pessoas que te acalmam, ouça músicas que te façam bem e, Respire!”, finaliza a psicóloga.